03 dezembro, 2006

B.B. King ainda não morreu. O blues já.

Esperava-se era uma certa “alma” (soul), “sentimento” (feel), que não apareceram no Via Funchal na noite do último sábado (dois de dezembro). Temo que nos dois dias que se seguirão as coisas sejam mais ou menos as mesmas. Pouca música, muita pose. Hype não é só para os modernos (como bem disse um dos espectadores).

O potencial era o de um evento histórico. Não foi, para a tristeza dos trezentos e sessenta reais da cadeira apertada. Mal deu para preencher um especial (como havia antigamente) no Fantástico. As músicas foram cortadas pela metade, o falatório durou mais do que devia. O “Jô Soares” do blues não deixou a música falar.

Não era um show de música. Era espetáculo. No pior sentido em que se pode pensar. Prova incontestável da falta de blues foi a uma hora e meia em que ficou no palco o tal do rei do negócio. O rei da cocada. Quem conhece um pouco da história desse tipo de música sabe que geralmente essas coisas não têm hora para acabar. Um pouco como o carnaval na Bahia. Enquanto houver gatos-pingados, a música não pára. B.B. King parou, jogou palhetas, assinou guitarra e foi-se embora sem fazer Lucille chorar. Aliás, estava tudo alegrinho demais.

Ainda bem que não dependo dele para saber o que é o blues. O que toda aquela gente arrumada e eu vimos foi uma espécie de amostra. Cara para cacete. Considerando uma regra de três mal-feita, a coisa deve ter sido um pouco melhor no Bourbon Street. Essa talvez seja a única coisa que me consola: alguém pagou mais caro do que eu.

:: postado por Germano