26 fevereiro, 2008

Lucy and The Popsonics e o "wit"

:: Rodrigo Celso

Música para dançar não precisa de letras profundas, essa é a tradição. Jorge Benjor que o diga. Neste caso, a melhor maneira de ser inteligente e evitar cair no romantismo meloso ou na cafajestagem é apostar no non-sense. A não ser que o objetivo seja construir atmosferas de pesadelo como as do Joy Division, caminho trilhado, em algumas faixas, pelo Interpol e pelo She Wants Revenge.

Lucy and The Pospsonics, banda de Brasília formada pela dupla Fernanda e Pil, está mais para Benjor do que para Joy Division: “Eu quero ser seu Tamagoshi”, o título da música já diz tudo. Deve haver umas 200 bandas no mundo recuperando a sonoridade eletrônica dos anos 80 e misturando punk com rock, na linha do Atari Teenage Riot e do Nine Inch Nails, sua versão diluída e comercial. Deve haver mais umas 300 fazendo piadinhas para parecerem engraçadas. A diferença entre todas essas bandas e os Popsonics é que eles conseguem.

Não vou comentar no detalhe as letras para não estragar a surpresa. O som também é bom, denso, pesado e bem trabalhado, algo inusitado para uma banda iniciante, especialmente brasileira. Todas as canções são bem resolvidas, mas às vezes um pouco óbvias, especialmente no uso de guitarras pesadas e distorcidas para contrastar com batidas e loops “engraçadinhos”. Seja como for, o começo é promissor.

Os vocais de Fernanda estão muito acima de média. Sua voz tem uma força e uma ironia difíceis de encontrar. É preciso muita cara de pau para cantar o refrão “Eu quero ser seu Tamagoshi” com aquela agressividade... O efeito é hilário. “Popdollkiller” tem momentos inacreditáveis, juntando no mesmo saco o desejo de dançar como a Sharon Stone (ela dança?) e de ter uma perna de silicone (o que?), depois de lamentar que um certo amor da sua vida tenha dado “as minhas roupas e acessórios”.

Falar bobagem parece fácil. Aparentemente, qualquer um seria capaz de inventar uma letra “nada a ver”, “muito louca”... Bom, amigo, amiga tente e veja o que sai. É provável que você faça algo sem graça e bobo que nem sua mãe vai conseguir gostar. Até para falar bosta é preciso inteligência. Os ingleses chamam isso de “wit”, algo que os Popsonics tem de sobra.

As letras surpreendem sempre, com versos completamente desvairados em que não se sabe o que esperar da estrofe seguinte. Apesar de não terem o compromisso de dizer coisa com coisa, são as letras as estrelas da estréia dessa banda brasiliense. Se como eu disse acima, o som é interessante, faz dançar e diverte, ele ainda tem muito que evoluir. O texto já é de alto nível.

Como é bom encontrar letristas que sabem escrever! Uma coisa cada vez mais rara...

No MYSPACE: http://www.myspace.com/lucyandthepopsonics