07 fevereiro, 2007

Para além do astronauta de mármore


O amor acabou. As tradições estão mortas. O homem vive isolado pela tecnologia. A tecnologia substitui emoções. Não nos abraçamos mais, não nos tocamos mais. Somos cada vez mais como as máquinas, frios, calculistas e pragmáticos. O que está entre o fim e o nosso desejo não tem valor algum, é apenas um caminho mais rápido e fácil (e cada vez mais rápido e fácil) até o gozo solitário da plenitude moderna.

O parágrafo acima já foi escrito diversas vezes. Cada nova época de transição tem o seu momento pessimista e questionador, um vácuo de esperança. Sempre que as coisas andam de maneira mais complexa e rápida do que podemos compreender, ficamos assustados e decretamos o fim do mundo, da humanidade e de tudo o que conhecemos.

Estamos em uma época confusa. Somos pioneiros de um tempo em que há um novo tipo de relação social, a relação virtual. Ela se espalha sem parar, passa a fazer parte de setores da nossa vida que não pareciam sujeitos a tal invasão. Não houve nada parecido como o que vivemos. Ou há? Ou será que somos pessimistas (e egocêntricos) demais para entendermos que no passado as coisas também foram ruins? Que as mudanças do passado foram tão radicais quanto as mudanças de agora?

Os Astronautas tentam ser a voz dessa percepção pessimista, mas, como todos nós, são também vítimas da contradição que há nessa atitude fatalista. Para eles, o amor acabou, estamos todos virando computadores idiotas, mas eles próprios são prova de que não é bem verdade. O disco O Amor Acabou pretende ter como fio condutor o diagnóstico de que o amor acabou, algo parecido com o primeiro parágrafo deste texto.

O discurso está logo na primeira faixa, a declamação e a decretação do fim do amor e de sua comercialização. Logo depois Os Astronautas aparecem com fortes batidas eletrônicas e gritos de “o amor acabou”, à la Atari Teenage Riot.

Ao longo das faixas seguintes o discurso perde o poder. O eletrônico (sempre muito presente) em nenhum momento vence o rock pesado e muito bem-feito. Por alguns instantes, na faixa “Brazilia”, até nos esquecemos dessa história de futuro pessimista. Nos juntamos aos gritos de “A a a o povo vai falar/ E e e o povo vai dizer/ Que não vai mais acreditar em Brazilia”. A multidão unida aquece o espírito da menina que “só queria um coração pra ela”.

Voltamos, mais tarde, ao começo da história, claro. Mas menos convencidos de que Os Astronautas realmente acreditam no que eles próprios dizem. Não é culpa deles. Aliás, talvez até seja intencional. Esse é o problema de fazer afirmações muito categóricas: geralmente elas são facilmente desmentidas.

Ainda assim vale a pena entrar na onda deles. A produção é muito convincente, as guitarras são interessantes, os efeitos eletrônicos estão muito bem posicionados. Até por isso é difícil acreditar que a falta de coerência do disco não seja um pouco intencional.

Para os que me acusam de não dar valor ao rock nacional, agora provo que estão enganados. O rock nacional de qualidade sempre será valorizado e terá algum espaço. O difícil é sair alguma coisa boa como Os Astronautas.

:: postado por Diogo BarbaRuiva - eugarimpo@hotmail.com