:: Rodrigo Celso
Sempre que uma banda extinta se reúne para gravar um álbum, há aqueles que desconfiam da falta de sinceridade da empreitada. A acusação mais comum é a ganância: “estão apenas a fim de ganhar dinheiro”.
Essa conversa me incomoda um pouco, mas eu entendo. Afinal, o rock tem uma ligação estreita com a juventude, que está sempre procurando novidades com as quais possa se identificar. Velhinhos tocando guitarra seriam mais ou menos como tiozinhos numa balada de adolescentes; algo meio ridículo, meio patético, digno de riso e pena. Seriam os Stooges tiozinhos da Sukita?
Respeito quem pensa assim, mas acho que há aqui pelo menos dois preconceitos: o primeiro, coloca a imagem antes da música e o segundo discrimina, ao mesmo tempo, jovens e adultos.
Se a música for boa, realmente importa se é um tiozinho quem a faz? A qualidade do som não deve vir antes? Depois, porque alguém mais velho não pode fazer rock’n’roll? “Ora, porque é ridículo, fala sério”. Bom, o problema é, que nem todo mundo concorda com isso.
Há cada vez mais tiozinhos (as) e vovozinhos (as) que fogem de todos os estereótipos e levam sua vida adulta de uma maneira muito diferente do que se poderia esperar. Isso significa duas coisas: um, que estão pouco ligando para os preconceitos e, segundo, que você, jovem ou adolescente, quando ficar adulto, pode ser aquilo o que quiser.
Hoje em dia, para que um homem ou uma mulher seja considerado um cidadão respeitável não é preciso tomar chá, ouvir música clássica, vestir roupas discretas, ler jornais conservadores e lembrar dos bons e velhos tempos. Há outras maneiras de ser adulto.
Num mundo em que, faz tempo, a juventude deixou de ser a vanguarda estética, política e social; um mundo em que boa parte da população parece interessada apenas em se enquadrar, arrumar um emprego e encher os bolsos de dinheiro, isso é um bom sinal.
Significa que não precisamos contar apenas com a juventude para produzir novidades. Há pessoas inconformadas de todas as idades; um grupo que não se enquadrada completamente no mundo em que vive e busca trazer um pouco de ar fresco para a monotonia do cotidiano.
A propósito, a música dos Stooges é muito boa. Claro, “The Weirdness” nem se compara ao poder e à novidade dos discos antigos. Além disso, não há nele qualquer canção que se candidate a clássico do rock’n’roll. Mas isso não é um problema. Os Stooges não precisam mais mudar o rock porque o rock de hoje ficou muito parecido com os Stooges.
Boa parte das bandas atuais faz um som muito próximo daquele que os Stooges ajudaram a inventar, ainda na década de 60. Por isso, em "The Weirdness" a banda soa vigorosa e atual, como já acontecera em “Skull Ring”, álbum da carreira solo de Iggy Pop. Os tiozinhos ainda mandam muito bem.
Para uma boa parte dos roqueiros, um disco novo do Stooges é equivalente a um novo disco dos Beatles. Sua influência no rock é comparável à do quarteto de Liverpool. Hoje, há mais bandas parecidas com eles do que com os Fab Four. Assim, seja lá o disco que viesse, já seria razão para comemorar.
Mas graças ao Diabo (que é pai do rock), o som de “The Weirdness” ajuda. Não há nada nele que embarace a banda ou os fãs. Se, ainda por cima, os tiozinhos ganharem rios de dinheiro com esse disco, vou ficar muito feliz. Pois eles nunca viram a cor dele durante sua carreira. Como o Velvet Underground e o MC5, os Stooges ficaram maiores quando já não existiam mais. É este o destino de bandas radicais?
Pode ser: quem opta por experimentar; desviar-se do senso comum, precisa criar o próprio mercado. Arriscar-se a fazer um som inusitado significa servir um prato diferente para pessoas acostumadas a comer hambúrguer com batatas fritas.
Hoje, os Stooges não são mais novidade. Todos sabem o que eles significam e o resultado de sua obra está aí, espalhado nos discos de alguns milhares de bandas ao redor do globo. Tanta influência, se não dá dinheiro, deve dar muita satisfação a músicos que não abriram mão do seu som.
Se eu fosse um Stooge, nem me incomodaria com quem olhasse para mim como se eu fosse um tiozinho da Sukita, perdido na balada errada. Afinal, com tiozinhos como esses, aposto que a moça da Sukita não se faria de difícil e iria dar mole, mole...
01 abril, 2007
Iggy Pop é o tiozinho da Sukita? ["The Weirdness", The Stooges]
Marcadores: Iggy Pop, Juventude, MC5, Rodrigo Celso, The Beatles, The Stooges, Velvet Underground
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