24 junho, 2007

Ensaio confuso sobre música eletrônica

:: Diogo BarbaRuiva


“Música eletrônica? Não, não costumo ouvir. Não tenho paciência.” É assim que os meus papos sobre o que ando ouvindo estão começando ultimamente. Batidas quadradonas não fazem o gosto da maioria dos amantes de música. Confesso meu preconceito contra esse estilo até bem pouco atrás. Percebi, porém, que há muito o que ser dito pela música eletrônica. É só ter saco.

Sem forçar a barra na analogia: o esforço de começar a apreciar as progressões dos DJs e produtores é parecido com o de ouvir a primeira sinfonia de nossas vidas. Fazer com que nos acostumemos ao formato de ambos os “ofícios” não é um trabalho passivo. Repetidas audições se fazem necessárias; pensar em parâmetros diferentes é o ponto crucial para entrar nesses universos um tanto descontínuos. O pop fez mal à nossa paciência.

De seis meses para cá, desenvolvi tal “saco”. É difícil de lembrar quando foi que tomei a decisão de sentar e esperar a música eletrônica acontecer para mim. Comecei pelo óbvio (o que estava ao meu alcance): psy-trance. Alguns amigos e amigas meus gostam de freqüentar raves. Fiz força e busquei no Myspace os nomes das duplas/DJs?produtores.
Achei meio chato. Não gosto de música de etê.

Adotando uma estratégia de eliminação, fui descendo o facão pelos estilos (aliás, inúmeros, impossível se ater a nomes). Hardcore techno, techno, house, beach house, digital hardcore, speedcore, terrorcore, breakcore, breakbeat, jungle, drum’n’bass, trance, psy-trance, acid-techno, acid trance, industrial, dark drum’n’bass. Escolher esse caminho é confuso. Apelei à Last.fm e me dei relativamente bem nas buscas.

Lembrei que gostava de Alec Empire e de seu disco ultra-pesado e quebrado, The Destroyer. A partir dele, achei mais nomes interessantes. Konflict, Messiah, Sub Focus, Hypnoskull, Pendulum. Pelos nomes posso dizer que cheguei a dois estilos que me agradam: harcore techno e drum’n’bass. Não o d’n’b do DJ Marky e do Mau Mau, mas um bem mais pesado, com cara de periferia londrina.

O interessante do d’n’b é sua versatilidade. Já encontrei diversos tipos de elementos em faixas desse estilo. Tem “Roda Viva”, do Chico Buarque, com a inconfundível batida quebrada, reggae, dub, rap, rock, heavy metal, industrial, até mesmo psicodélia. O importante é a batida ressonando no peito. Mais do que em outros estilos, eu diria. Há um quê de primitividade, uma tentativa de simplesmente fazer um barulho empolgante. Não há preocupação excessiva com a produção. Uma linha melódica simples é mais do que suficiente para dar alguma emoção à batida.

É o baixo quem dita as regras. Mesmo que se argumente a favor da batida, há sempre que se pensar no fato de que ela é muito parecida em quase todos os casos. Poucos produtores sabem faze-la suingar. Por isso precisamos do baixo. Ele faz quebrar o que a batida ainda não quebrou, e amarra a simplicidade do ritmo a uma linha melódica que muitas vezes não tem mais do que duas notas.

Londres, sempre Londres. Bem, talvez não só Londres, mas o Reino Unido é o lugar do mundo que mais sabe fazer música e lidar com ela. Tudo o que realmente importa no pop saiu de lá, seja direta ou indiretamente. O d’n’b não é exceção a essa regra.