01 setembro, 2007

Quando três não querem, um lança disco


:: Diogo Barbaruiva

Ele voltou!

Todos sabemos que Frank Black e Black Francis são a mesma pessoa, mas não a mesma persona. O primeiro teve seus momentos quase Pixies no disco Teenager Of The Year (1994), mas desde então embarcou numa viagem em busca das raízes da canção norte-americana. Foi do punk ao hard rock, e deste ao folk, por onde tem andado nos últimos tempos. Francis é a voz esganiçada e perturbada da melhor banda de rock dos últimos 20 anos, criador de uma obra rápida, curta e direta.

Francis resolveu que era hora de mostrar aos outros Pixies que sua fúria criadora não podia mais ficar presa. Cansou de esperar Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering criarem coragem para lançar um disco novo. Assumiu que o passado o incomoda, retomou seu nome e deixou seu lado mais pesado, rápido e “psicótico” aflorar novamente, depois de pelo menos nove anos - desde Cult Of Ray não se ouve Frank Black Francis tão punk. Bluefinger, uma homenagem temática ao músico/artista holandês Herman Brood, é uma retomada histórica.

Black Francis nem precisou se esforçar muito para deixar toda a pose das bandas de hoje em dia comendo poeira. Pegou sua guitarra, um baixo, uma bateria e sua esposa Violet Clark e gravou o que provavelmente será um dos melhores discos de 2007. Simples, como sempre foi em toda sua carreira. Nada de excepcional, digamos a verdade. Cumpre seu papel muito bem, mas como era de se esperar, não traz muitas novidades. Há discos puxados para o rock na carreira de Frank Black (como o antológico Teenager Of The Year) que são muito mais próximos da qualidade do Pixies. Mas essa não é a questão. Temos a volta de um dos mais importantes “songwriters” dos anos 80 ao tipo de canção que o consagrou e fez dele objeto de um culto fiel e extenso.

Bluefinger nos relembra de como o rock pode ter energia sem soar forçado demais. “Threshold Apprehension”, um festival de gritos punk, certamente faz inveja aos Arctic Monkeys (para não perder o costume). Digna de um disco como Trompe Le Monde (1991), - não o melhor dos Pixies, mas ainda assim excelente - “You Can’t Break A Heart And Have It” mescla o estilo falado/cantado de Frank Black com backing vocals que são menção clara a Kim Deal. Sem fugir da veia folk há “Angels Come To Comfort You”, que conta a história do suicídio de Herman Brood (que se atirou do telhado de um hotel) de maneira quase inocente. A guitarra marcada de Francis não deixa dúvida de que foi uma música inicialmente pensada para o violão (a lembrança de Dylan quando ficou elétrico vem forte à mente do ouvinte). A faixa termina com os vocais de igreja de Violet Clark embalando uma batida forte e cheia de viradas (“Freedom Rock”?).

Ao contrário do que disse que faria no filme LoudQuietLOud, Frank Black cansou de lançar discos country e de esperar seus companheiros resolverem ter uma aventura no estúdio. Arrisco dizer que Frank Black Francis é um dos mais corajosos músicos de rock que temos hoje em dia. Ele teve tudo: a fama, o reconhecimento, a oportunidade de voltar a ganhar dinheiro com uma reunião do Pixies. A necessidade de se expor nunca se apagou, o que é admirável para um quarentão que poderia muito bem ter resolvido viver do passado e vir ao Brasil fazer sets de DJ em casas noturnas da moda (em tempo: Frank Black, em uma entrevista na WOXY disse que um dos locais em que ele gostaria de fazer um show é São Paulo, além de Manchester; portanto, ele sabe que nós existimos!). Com Bluefinger, mais uma vez o caminho “fácil” foi deixado de lado e o rock voltou a fazer parte de seu repertório. Esperemos, então, o lendário Black Francis e sua família virem ao Brasil mostrar sua inquietude.

Ouça "Captain Pasty" e "Threshold Apprehension" aqui: http://www.bluefingeronline.com/

Não há previsão de lançamento para o Brasil.

Black Francis cantando "Threshold Apprehension" ao vivo: