02 maio, 2008

O Rock e o princípio da seleção natural [o que é que o Mogwai tem]

:: Rodrigo Celso

Eu gosto de shoegaze, o Diogo não, mas surpreendentemente, nós dois gostamos do Mogwai, uma banda instrumental que usa os clichês, os timbres e os instrumentos do Rock em harmonias nada usuais para o gênero. Lembra o shoegaze e algo mais, eu diria, as bandas de Post-Rock, rotulo da imprensa mundial para um tipo de musica nascida no final dos anos 90. Se eu fosse jornalista, diria que o Mogwai faz um som climático; a trilha sonora de um fim do mundo, às vezes melancólico, às vezes agressivo. Mas como não sou, posso dizer que a banda rompeu com o formato da canção POP em busca de novos caminhos: mais ou menos o que o Radiohead fez no Kid A e o que caracterizou o Post-Rock e minha banda favorita no genero, o Slint (foto acima, capa de Spinerland).

Era um clima de época: o primeiro disco do Mogwai é de 1997 (Mogwai Young Team), mesmo ano de OK Computer, disco em que o Radiohead começava sua jornada na direção de um Rock inovador e interessante, depois de fazer faixas POP bregas como a grudenta, quase insuportável, mas irresistível “Fake Plastic Trees” que, não por acaso, tocou em comerciais cujo objetivo era nos fazer chorar e doar dinheiro para os desvalidos do mundo. Justamente nos anos 90, especialmente na região de Chicago, EUA, surgem bandas como Basrto, Table, Cheer-Accident, Shellac, Breadwinner e Maple todas girando em torno dos selos Touch and Go records, Quartersick Records e Skin Graf Records e do engenheiro Steve Albibi, que seguiam a mesma trilha.

Don Caballero, banda de Pittisburg, que estreou em 1993 com For Respect, seguiu na mesma direção, com um som bem pesado, mistura de Sonic Youth com Helmet e Metaalica, sem usar letras ou vocais. Quem ouviu a banda Jesu, que estreou ano passado com Conqueror, álbum que teve uma acolhida razoável pela crítica, sabe do que eu estou falando.

Drive Like Jehu, Antioch Arrow, Clikitat Ikatowi, Tristeza e Havy Vegetable de San Diego; Shudder to Think, Faraquet, 1.6 Band, Autoclave, Jawbox e Circus Lupus de Washington; Breadwinner, Kenmores, Sordid Doctrine, MEN, Alter Natives, Mao Tse Helen, Hell Mach 4, Hose.got.cable, Mulch, Hegoat, King Sour, Chutney, HRM, Nudibranch, Ebonite, Engine Down, Gore de Vol and Human Thurma de Richmond (Virginia) também fizeram parte desta cena.


Não podemos esquecer de Slint, banda de Louisville, uma das mais influentes do gênero, com um som mais clean, sem distorção nas guitarras, que não buscou inspiração no Metal ou no Hardcore como Don Caballero e tantas outras bandas desse "movimento". A banda durou de 1986 a 1991 e gravou apenas Tweez e Spinerland, discos extremamente influentes, especialmente Spinerland, copiados por diversas bandas. A banda se reuniu em 2005, mas enfim..., não é a mesma coisa.

Você pode gastar boa parte de sua vida para ouvir todos estes discos, mas não perca seu tempo. Fique apenas com as principais, a não ser que seu grau de maluquice esteja próximo ao meu e ao do Diogo. O “name dropping” aí de cima não foi para intimidar, mas para mostrar quantas bandas razoáveis são necessárias para se produzir um artista fora de série. Pense nisso antes de endeusar o primeiro idiota que aparecer e antes de acreditar na imprensa, sempre preocupada em encontrar o novo hype do momento. Eu acredito em duendes e em jabá. Em suma, o Rock também está sujeito ao princípio da seleção natural.


Sobre a Touch and go Records:


Slint (Good Morning, Captain):


Mogwai (Travel is Dangerous):