03 maio, 2008

As canções perfeitas [12:51, Room on Fire, The Strokes]



:: Rodrigo Celso

Não poderia ser mais simples: um riff poderoso embala um rapaz que canta a ausência da mulher de que ele gosta. Ele canta exatamente o momento em que descobre que ela faz muita falta: são 12:51 e sua voz encontra as palavras para dizer que ele está com saudade, que eles poderiam estar juntos para ir àquela festa, que ele não vai tentar controlá-la. A canção 12:51 é um chamado dolorido no meio da noite de uma cidade anônima: todas as possibilidades estão abertas, tudo parece possível, mas ela não está ali.

A faixa começa devagar, mas logo cria um clima de tensão que não se resolve nunca, pois ela não telefona e nada acontece: eles não ficam juntos, pelo menos até o fim desses maravilhosos dois minutos e vinte e cinco segundos da vida do eu poético. Tons e alturas diferentes se alternam a cada verso, mostrando a variação emocional que a letra vai descortinando: eu descobri que você faz falta e te chamo com todas as minhas forças, mas você não aparece...

Sussurros e gritos: o vocal, entre o contido e o derramado. O riff ajuda a reforçar o clima de ambiguidade, dúvida e suspense com variaçoes de tom a cada repetição: a guitarra toca notas inesperadas, como seria inesperado que ela surgisse ali, naquele instante, indicando a melancolia e a euforia que acompanham tais sentimentos.

No momento final da canção, o mais comovente, o baterista, que até então tocava de forma seca e discreta, conduzindo com o chimbau fechado, passa a conduzir no prato, criando um som estridente que ressalta a explosão emocional do vocalista e da letra que, neste ponto, por repetir e repetir o chamado vão, começa a doer em nós.

Nada mais simples: a letra de 12:51 poderia ser uma anotação na agenda de qualquer moleque de 15 anos, mais ou menos a idade a que se fica reduzido quando se gosta de alguém.