05 outubro, 2008

De trás para frente [The Sonics e a genealogia]

:: Rodrigo Celso

Um grande escritor cria seus precursores, ensinou Borges falando de Kafka. No Rock acontece a mesma coisa. Por exemplo, desde que o movimento punk surgiu, diversas bandas e artistas que antecederam o movimento passaram a ser vistos com outros olhos. “Proto-punk”, “precursores”, todos esses rótulos foram aplicados aos The Sonics, banda que esteve na ativa na metade dos anos 60 nos Estados Unidos. É claro, quando eles tocavam, não queriam ser precursores de coisa nenhuma, apenas tocar alto e gritar com raiva, falando de drogas, psicopatas, bruxas, bebidas, mulheres e Satã para criar seu estilo próprio.

Os The Sonics devem ser ouvidos por si mesmos e não como precursores de coisa nenhuma. Diga-se de passagem, o punk poderia nem ter existido e canções como “Psyco”, “The Witch” ou “Dirty Old Man” entre tantas outras, continuariam tão boas como sempre foram. Na verdade, olhados em si mesmos e em seu contexto, uma Seatle repleta de bandas de garagem, os The Sonics soam ainda mais originais.

Talvez um elo perdido entre o Rockabilly e o Psycobilly, fenômeno pós-punk capitaneado pelos The Cramps, Os Sônicos mostravam que, já naquela época, o Rock não era apenas sobre dança, namoricos e alegria juvenil. Podia falar de assuntos menos classe média e ser um excelente veículo para pensamentos inusitados, tudo isso acompanhado de um som sujo e agressivo. The Sonics é para ouvir bem alto e em versão NÃO remasterizada, de preferência acompanhado pelo barulho da agulha no vinil. Comece por qualquer lugar, por exemplo pelo CD "Maintaining My Cool".