08 novembro, 2008

Não basta ser “cool”... [Simply Saucer, Cyborgs Revisited]

:: Rodrigo Celso


Este é um texto da série: bandas “cool” que vêm de lugares nada “cool”. Hamilton, Ontário, Canadá, 1974, uma cidade de menos de 300.000 habitantes, às margens do Lago Ontário, dedicada principalmente à metalurgia. A banda, Simply Saucer, que nunca chegou a lançar um disco (o CD à venda, Cyborgs Revisited é uma compilação tardia), é hoje considerada uma referência para o Rock alternativo canadense e mundial.


A impressão que se tem ao ouvir a banda é que um grupo de jovens de talento, relativamente isolados, teve um monte de idéias geniais sem ter ninguém para mostrar. Quer dizer, sem ter ninguém capaz de levar seu som para um centro cultural que os lançasse aos olhos do mundo. Mistura do Pink Floyd de Syd Barret com Velvet Undergroug e The Stooges, o Simply Saucer é uma espécie de elo perdido entre o rock progressivo e o rock de garagem, como toques de música eletrônica utilizada de forma precursora e original.


Com uma produção contemporânea, a banda poderia ter sido lançada ontem e não deixaria de ser genial. As músicas misturam um humor descompromissado, às vezes negro, como em “Nazi Apocalipse”, com peso e sons climáticos que não desrespeitam o formato da canção de 2 ou 3 minutos, como fariam bandas progressivas e algumas bandas de hard rock como Deep Purple e Led Zeeplin. É difícil acreditar no que se está ouvindo (eu ainda estou tentando absorver a coisa toda...) e, principalmente, que esse som tenha permanecido quase inacessível por tanto tempo.


A esperança atual é que uma coisa como essa nunca mais venha a acontecer. Hoje, uma banda pode estar em qualquer lugar e ser ouvida em nível mundial. Talvez seja verdade, como diz nosso amigo Chris Anderson da Wired, revista especializada na Internet, em seu livro “A Longa Cauda”, hoje é preciso vender pouco de muitos produtos para fazer dinheiro. Muitas bandas vendendo menos, ganhando menos dinheiro no lugar de artistas POP arrasa quarteirão fazendo milhões de dólares. Não sei qual quadro é o melhor, mas pelo menos, no mundo de hoje, tenho quase certeza que o Simply Saucer não teria despontado para o esquecimento. E tenho orgulho de viver no tempo que eles e tantos outros artistas esquecido tem sido redescobertos, celebrados e ouvidos.