14 agosto, 2009

Não temos tempo a perder: Smack

:: Diogo Antônio Rodriguez

Estou me sentindo injustiçado. Passei muito tempo acreditando que o rock nacional se resumia ao "BRock" que tocava e toca na televisão, achei que os heróis brasileiros eram mesmo Renato Russo e Cazuza. Ontem à noite descobri que há uma versão da história do nosso rock que não foi contada.

Ao longo dos últimos meses, percebi que há um encaixe faltando na linha lógica. Celly e Tony Campello, Jovem Guarda, Os Mutantes e... caímos direto na RPM, Paralamas, Ira! e Legião Urbana? Saímos do psicodélico avant-garde e fomos direto para o pós-punk e o new wave coxinha? Não, caros leitores. O que falta é o elo principal para entender São Paulo hoje em dia, o começo dos anos 80.

Digo isso porque no show Smack/Mercenárias que aconteceu agora há pouco na Livraria da Esquina as peças se encaixaram. As últimas refrescaram a memória de que de fato tivemos uma cena punk. Os primeiros mostraram que o punk, o pós-punk, o art-punk, o rock setentista, todos foram absorvidos aqui em São Paulo e reagrupados. Melhor dizendo, sintetizados.

Você já ouviu Edgard Scandurra tocando ao vivo? Então corra. Se você diz que gosta de rock, corra. Ouso dizer que ele é um dos melhores guitarristas do Brasil. Fácil dizer isso, convenhamos
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As Mercenárias

Ouvi Smack poucas vezes. Não sei nem assoviar as músicas. Arrependo-me. Perdi tempo achando que não havia horizonte entre Arnaldo Baptista e Dinho Ouro Preto. Fui levado a comprar discos que não deveria ter comprado. Smack e Mercenárias, esse é o som que deveria ser obrigatório para nós, fãs de rock brasileiros, junto com The Clash, Ramones, Velvet Underground. "Garoto, você tem que ouvir os discos do Chico; e os do Edgar Scandurra". Esse é o tipo de pai que serei um dia.

Durante a apresentação do Smack não pude evitar de pensar no Television. Linhas de guitarra fraseadas, mas suingadas e punks. Agressividade de Pete Townsend e a doçura melódica que se ouve em "Marquee Moon". Scandurra mete a mão na Stratocaster sem palheta, sem muita distorção e enchia o pequeno clube paulistano de som - não havia muita gente presente.

Sinto-me culpado agora. Talvez tivesse sido melhor ter ficado em casa e sido feliz na ignorância. Caminho sem volta, encontrei uma parte do meu DNA que pensei estar em Londres ou Boston. Peço licença a José Ramos Tinhorão e digo: não estávamos copiando o punk e o pós-punk. Nós também os sintetizávamos (com o perdão do trocadilho). Os Mutantes estiveram na crista da onda; a São Paulo dos anos 80 (a dos clubes e dos pequenos selos) também.