Desde o lançamento de Is This It?, em 2000, os fãs de rock e garimpo têm sido instigados a passar os anos perguntando: is this it?. Ou seja, é essa (seja ela qual for) “a” banda que vai resgatar o bom rock do limbo e consagrar a volta dele às paradas de sucesso?
Os Strokes foram os pioneiros da “retomada” do rock alternativo e fizeram muito sucesso. Eles delimitaram os parâmetros de todos os seus sucessores que tentaram conseguir o mesmo feito. Os pré-requisitos são: ter alguma relação com os anos 60 e/ou 70, ser indie (no visual, além da música) e usar a internet para divulgar as músicas (e só estourar nas rádios depois de muito hype e celeuma virtuais).
Todo mundo que veio depois seguiu esse mesmo caminho e ainda segue. Tomemos o exemplo mais recente, o The Arctic Monkeys, para fazer um contraste mais rico. Em apenas um ano uma banda absolutamente desconhecida se espalhou viralmente pelos canais tradicionais e novos de música. Seus shows começaram a lotar, o disco, que ainda não tinha saído, era esperado por centenas de fãs (já?). A diferença entre eles e o Strokes foi a velocidade. Para a época, a ascensão dos nova-iorquinos foi incrível, algo considerado sinal dos novos tempos. Os Arctic Monkeys tiveram a vantagem da existência de um mercado de música alternativa.
Hoje não é muito difícil ter acesso ao que antes era considerado uma conquista. Conhecer bandas novas é só uma questão de tempo e de ferramentas. Existem a WOXY, a Last.Fm, a Trama, a Sum Records, mesmo a Amazon, que não é mais tão inacessível. Ser indie é agora um produto que vende muito bem para um segmento de consumidores de música em mercado cada vez mais fragmentado.
O difícil é ser alternativo, fugir de toda a produção, publicidade e “empacotamento” das bandas e canções. Não importa mais que você saiba o nome de 70 bandas escocesas que só têm um EP lançado, porque elas todas provavelmente já assinaram com uma major e estão sendo lançadas aos poucos, justamente para dar aquela impressão de que os ouvintes estão descobrindo algo novo e salvador!
Não sei se há alternativa fora desse mercado e talvez isso realmente não importe. Afinal, o mercado é um mecanismo social cujo objetivo é de levar bons produtos com preço acessível a uma grande quantidade de pessoas. Mas o mercado musical deve tratar de música e não do hype, assim como o verdureiro deve se preocupar com a qualidade da alface que vende e os políticos com a qualidade de seus projetos para o país. Passada a empolgação inicial; depois de todo o frisson que cerca o lançamento de uma banda, trata-se de falar de música e não das frivolidades que costumam preocupar a maioria dos promoters e marketeiros. Falando em termos de som, os Monkeys ilustram o parágrafo acima muito bem, melhor do que os Strokes.
E eu tenho uma explicação para a diferença: talvez os Strokes tenham realmente sido sinceros. O que ganharam a partir do sucesso veio depois e não era um projeto da banda. Não sei o que se passa na cabeça de ninguém, mas é certo que a música de todas as bandas que se seguiram a partir de 2000 não segurou ninguém vivo até hoje.
Aparentemente, faltou fazer música e talvez fazer música ainda importe para algumas pessoas, inclusive alguns consumidores. No fim das contas, talvez não seja tão importante assim comprar o disco do cara mais cool do momento. Não há como se saber ao certo. Mas The Vines, The Hives, Libertines, todas essas bandas sumiram; não sobreviveram ao segundo disco. Um só álbum, muita falação e nada de carreiras. Sem querer ofender a ninguém, mas esse provavelmente será o destino dos macacos gelados.
Insisto na comparação com os Strokes e digo: falta música e consistência aos Monkeys. O que há de concreto para além do belo embrulho preparado pelo departamento de marketing e pelo produtor é um disco simples demais para uma banda tão falada. Is This It?, ao contrário, fez o que prometeu e muito mais; tirou muita gente da incredulidade e fez uma nova geração descobrir quem diabos era o Velvet Underground, o Television, até mesmo os Pixies. E já estão no terceiro disco sem cair na obscuridade. Já sem tanta mídia, têm bastante música boa no currículo.
Concluo o meu raciocínio com o que deveria ter sido o início deste texto: os Strokes, firmes e fortes, concentrados no rock, nas guitarras e menos focados no hype soam cada vez melhor em comparação com cada banda que passa a cada ano. Ainda estamos à espera de uma banda à altura. Entra ano e sai ano, e nada. Mas tudo bem. Vem aí o quarto disco. Para que se preocupar com o resto?
:: postado por Diogo BarbaRuiva - eugarimpo@hotmail.com
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