20 abril, 2007

Curtas [Para bater a cabeça na parede]

:: Diogo BarbaRuiva


Dois discos pra bater a cabeça na parede: The Destroyer, de Alec Empire (veja o texto publicado sobre ele aqui) e The Downward Spiral, do Nine Inch Nails. O primeiro é desconhecido até mesmo dentro da discografia de Empire. Ele mostra sua vocação para DJ (atividade que é sua principal hoje em dia) num cd sem melodia alguma. Se já era difícil identificar notas e acordes punk no Atari Teenage Riot, aqui é pior. A intenção é ser o mais violento possível, quebrar as batidas ao extremo, usar gritos, barulhos estranhos e o que mais estiver ao alcance das pick-ups e CDJs. Música de quem vive em grandes cidades. Experimente ficar preso na Marginal Pinheiros às 18h ao lado de caminhões e motos. As coisas se fundem num som só, que sai tanto dos seus altos falantes quanto do ambiente ao seu redor. Os tons de The Destroyer são os mesmo dos barulhos metálicos e mecânicos da cidade, por isso a fusão tão fácil. Por um instante é possível esquecer que o som está ligado. São Paulo parece embalar o começo de sua noite. Fica mais fácil (ou enlouquecedor) encarar o trânsito assim.

O Nine Inch Nails já teve o Atari Teenage Riot como banda de abertura e é um dos pioneiros no eletrônico industrial misturado com rock. Apesar de muito menos agressivo e incisivo (e de não ser político), Trent Rezor é relevante não só nesse segmento com também no rock em geral. The Downward Spiral é o momento mais inspirado dele, em que deixou o caminho aberto para Marylin Manson, Rob Zombie, Linkin Park e outros mais. A produção é mais elaborada, mais clara (em oposição à densidade de Empire e Atari Teenage Riot) e mais voltada para a obscuridade de sentimentos: desejos sexuais violentos, mutilação, auto-flagelo, violência raivosa . Reznor é também um excelente produtor: é parceiro de Marylin Manson há anos e soube não impor seu som ao pupilo, apesar da evidente influência. Outro ponto positivo do NIN é sua parcimônia em lançar discos. Reznor já foi chamado de gênio algumas vezes pela imprensa musical mas não se deixou impressionar. Sua discografia não é extensa e em muitas ocasiões foram lançados compactos e singles ao invés de álbuns inteiros. Destes últimos são quatro, desde 1989, uma ótima média. O penúltimo álbum, With Teeth (2005), confirmou a relevância do NIN, apesar de ser mais voltado para o rock e menos industrial.