13 abril, 2007

We want more [The Living End, uma banda legalzinha]


:: Diogo BarbaRuiva

Este texto poderia ser um da seção “É ruim, mas é bom”, se levarmos em conta o tipo de som que o The Living End faz. Como já constatamos por aqui, porém, o pop não é necessariamente ruim; tem gente que procura um mínimo de “transcendência” mesmo fazendo música comercial. Madonna, George Michael e o finado bom cantor pop Michael Jackson (não, ele não morreu, mas o bom cantor que ele era, sim). Gostar de algo fácil e divertido é uma parte importante das nossas vidas. De uma certa maneira, é um aprendizado.


Fui apresentado aos punks australianos em 2000, quando eles estouraram nos EUA (quando eu morava lá) com o disco Roll On. A faixa de mesmo nome fez parte até da trilha sonora do Super Bowl – a final do campeonato de futebol americano, que tem o minuto de publicidade na TV mais caro do mundo. Na época eles não me pareciam nada mais do que aspirantes a Green Day. A execução no rádio era tão exaustiva como as de Nelly, Jenniffer Lopez e Limp Bizkit (monstros do pop naquele ano). Não havia a menor chance de eu comprar aquele CD. Lynyrd Skynyrd me parecia algo muito mais interessante naquela altura.

Na única loja de CDs decente da cidade em que eu morava (que já foi mencionada aqui, no texto sobre Kid A, do Radiohead) eu acabei escutando Roll On por acidente. O vendedor era meu amigo e a única pessoa que não achava meu gosto musical estranho – vejam bem, os hits no Alabama eram quase todos gospel. Ele pôs no som da loja (pulando a faixa mais famosa) e eu acabei ficando curioso. Era bem pop, mas tinha uma levada rockabilly. Depois ficou um pouco sombrio e melancólico, mas sempre punk. Em uma dada faixa, a introdução era um reggae rasgado, com a bateria suingada e uma guitarra entre Sublime e Reverend Horton Heat. Não resisti e perguntei para ele o que diabos era aquilo. Como de costume, ele não falava de volta, simplesmente voltava com o disco na mão porque sabia que assim aumentavam suas chances de arrancar mais 13 dólares de mim. O maldito conseguiu mais uma vez. Levei Roll On para casa.


Em poucos dias de audição despreocupada (porque com músca pop não é necessário muito esforço), o The Living End já tinha feito estragos em mim. O disco é muito bem-feito. Mais do que punk de rádio e de butique, o som deles é um “punk sinfônico”, cheio de transições e mudanças de tom, de paradas, de leves toques de naipe de metal, ska, reggae e hard-rock. O rockabilly é uma das referências principais no som. Eles usam um baixo acústico mesmo nas músicas mais pesadas; no disco há um agradecimento ao já citado Reverend Horton Heat, um dos maiores nomes do psychobilly.


Quando voltei para o Brasil, percebi que os australianos haviam passado em branco aqui. Depois de alguns meses, acabei me esquecendo deles (como é comum acontecer com discos pop). Meus garimpos continuaram sem ter muito a dizer sobre o The Living End. Até semana passada. Em um daqueles momentos em que nada satisfaz os ouvidos, comecei a buscar um rock mais pop, para ficar longe dessa coisa indie. Topei com uma supresa, State of Emergency, disco do ano passado dos punks sinfônicos. Impressionei-me novamente com a competência em fazer canções precisas e repletas de energia. Rockabilly de novo, batidas fortes de novo, o ska de novo. Muito parecido com Roll On. Outra vez, experimentações diversas. Não fosse por duas canções em particular, o disco seria classificado na seção “descartáveis pelos quais tenho carinho” da minha sobrecarregada memória musical.


“No Way Out” cita Radiohead. Você diz: “e daí?”. The Living End era o sucessor do Green Day! Os americanos tentaram entrar no rock alternativo e se deram mal. Entenda que a faixa não é só uma tentaiva de fazer sucesso em outras searas, ela tem vida própria, faz sentido no conjunto da obra da banda. Depois do momento “Street Spirit (Fade Out)” entra uma progressão punk melódica típica do trio australiano. Depois de quatro discos, uma banda que parecia descartável ganha relevância sem comprometer sua identidade pop e sem assustar a fan-base.


“Nothing Lasts Forever” vai além da anterior. Tudo o que eu disse sobre o contexto em relação à “obra” da banda vale aqui. Não sei o que pode ter feito sair o som que eles tiram na sétima faixa de State of Emergency, se o produtor ou os quase dez anos de carreira, mas é impressionante. As guitarras são fantásticas, uma mantendo a base simples o tempo todo (evocando o punk); a outra faz fraseados cheios de eco, passando uma idéia de espaço e de movimento . A harmonia vocal é muito bem-colocada e tão importante quanto as guitarras.

Ouvir as duas faixas isoladamente pode passar a impressão errada de uma banda indie, emo até. Se não vale a pena baixar, ouvir e sentir o clima dos dois álbuns completos (apesar do pouco esforço que isso implica), pelo menos tenhamos em conta tudo o que está por trás do som. O fim do formato àlbum em detrimento das faixas talvez tenha como consequência o fim do idéia de contexto também, o que é uma pena.


O que motivou essa reflexão e o texto foi justamente o contexto, o caminho trilhado, as músicas que foram gravadas e como elas foram gravadas, foi ver uma banda ser sinceramente pop e explorar suas limitações de maneira a ter identidade. Sim, essa é uma obsessão minha em relação ao rock, ouvir algo que seja fruto honesto de experiências e influências, não uma imitação do que se considera ideal (ou bom). Nunca me esqueço da qualidade, entretanto. O The Living End é só mais uma bandinha legal, que não durará para sempre.
  • Breaking all the rules/Fooling all the fools/Like you got nothing to loose/And we want more”. (Quebrando todas as regras/Enganando a todos os tolos/Como se não tivéssemos nada a perder/E queremos mais) - “Nothing to Lose”, do disco State of Emergency.

The Living End:
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