03 setembro, 2007

M.I.A. também gosta de rock



:: Diogo B
arbaruiva

para A.J.M.C.

M.I.A, cantora do Sri-Lanka radicada na Inglaterra, está para lançar Kala, seu segundo disco. Ela ficou conhecida aqui por usar bases de funk carioca em suas músicas e por ter se apresentado com Deize Tigrona no TIM Festival de 2005. No novo álbum ela continua sua busca por ritmos de locais periféricos do mundo que dêem liga com seu vocal suingado que tem algo de rap e música jamaicana.

O que mais me chamou a atenção em Kala, porém, foram as referências mais do que cultas ao rock. Na primeira faixa, “Bamboo Banger”, M.I.A. cita a letra de “Roadrunner” da banda The Modern Lovers (citada no blog no texto anterior). Os bostonianos liderados pelo megalômano cantor, compositor e guitarrista Jonathan Richman foram uma das primeiras bandas de rock “alternativo”. Apesar de não serem geniais em toda a sua carreira os Lovers ajudaram a formatar o tipo de canção que seria trabalhado nos anos 80 por bandas como Pixies, The Jesus and Mary Chain, Meat Puppets etc.

Outra faixa que mostra o conhecimento de Maya (nome verdadeiro de M.I.A.) sobre o rock é “$20”. A linha de baixo é uma cópia da histórica linha de Peter Hook em “Blue Monday”. Já seria bem impressionante. Mas, na mesma música, ouve-se o refrão de “Where Is My Mind?”, dos Pixies, que é o refrão de “$20”. Numa só tacada, M.I.A conseguiu citar duas das mais importantes bandas da história do rock ambas de Boston e ambas influentes, cada uma a seu tempo. O que realmente impressiona é seu conhecimento das relações existente entre as duas bandas em questão, os The Modern Lovers e os Pixies.

Frank Black/Black Francis é um fã declarado de Jonathan Richman. Não se pode negar que se os Pixies herdaram os temas sexuais de Lou Reed e Velvet Underground, a irreverência veio de Richman. Assim como Black/Francis, Richman lançava álbuns solo compulsivamente. No primeiro disco com os The Catholics, Frank Black fez uma homenagem ao seu ídolo na faixa “The Man Who Was Too Loud”.

O rock não precisa ficar limitado a influenciar gente que partilhe das mesmas intenções estéticas; é importante notar que alguém tão relevante na música feita atualmente (como M.I.A.) tenha ouvido essas bandas e partido de um ponto de vista completamente diferente. Nunca imaginei que fossem possíveis tais "ligações perigosas". Falta, agora, alguma coisa parecida acontecer no sentido inverso.