27 outubro, 2008

Eles não são de nada [show do Fischerspooner na Bienal de SP, 26/10/2008]


:: Rodrigo Celso

O show do Fischerspooner é uma paródia dos grandes espetáculos de artistas como Janet Jackson e Maddona. Além das músicas, as roupas e o texto estilizam a afetação e o exagero das grandes personalidades da cena POP mundial, temparamentais, perfeccionistas e cheias de manias. O vocalista Casey Spooner, não parava de relamar das roupas das dançarinas que acompanham o grupo e de implicar com o som da banda, com o comportamento dos músicos etc.

Tudo não passava de brincadeira, é claro, para nos fazer pensar na mistura de fascinação e asco que sentimos diante do "star system", montado principalmente nas décadas de 80 e 90. Andy Wharhol captou o espírito de seu tempo e, antes de morrer, fascinado pelas celebridades, fez retrados de Sylvester Stallone, Deborah Harry e Michael Jackson. Hoje, com a relativa fragmentação que o mundo da cultura está experimentando, é possível ser mais irônico e, porque não dizer, saudosista ao lembrar de uma época que parece estar fadada a morrer. As celebridades não são mais de nada.

Claro, ainda temos algumas celebridades mundias e locais, mas acreditem os mais jovens, não é a mesma coisa. Não é mais preciso ligar o rádio no Brasil, Japão, EUA e Alemanha e ser obrigado a escutar exatamente a mesma coisa. Estamos livres para ouvir rádio na internet e em emissoras locais e comunitárias; comprar CDs independentes em lojas, camelôs, bancas de jornal; baixar e ouvir música na Internet legalmente etc. Um número cada vez maior de pessoas, no centro e na periferia, pobres e ricos, ateus e religiosos, ignora a programação e a propaganda da grande mídia e constrói, a partir de seu gosto pessoal, a imagem do mundo que deseja vislumbrar. Só se submete quem quer ou quem gostar muito de sofrer.
O Fischerspooner pensa suas performances para este mundo pós-celebridades, em que é possível lembrar com carinho e ironia de seres que já se tornaram inofensivos. Além disso, sua música, um electro de alta qualidade, empolgou o pequeno público que compareceu à Bienal ontem a noite, criando um clima intimista que apenas um show pequeno pode ter. Claro, mais uma ironia do Fischerspooner: comportar-se como "superstar" diante de uma pequena platéia de "culturetes", no meio de uma exposição de arte contemporânea. Como bem sabia Freud, o riso nasce do deslocamento de um elemento para fora de seu contexto. Posso dizer com certeza absoluta: todos os que assisiram ao show do Fischerspooner ontem à noite e têm um cérebro saíram do Parque do Ibirapuera sorrindo.