O excelente show do Fischerspooner no térreo do pavilhão da Bienal deste domingo dia 29/10 deve ter aliviado um pouco a tensão dos funcionários depois dos incidentes que ocorreram ali neste fim de tarde. Quando cheguei, por volta das sete e meia da noite, tudo parecia calmo, não havia fila. Tentei entrar no prédio, mas os seguranças, nervosos, não deixavam ninguém passar. Algum tempo depois ouvi gritos, barulho de vidro quebrado e gente correndo.
Passaram bem do meu lado um segurança perseguindo um rapaz de short verde com uma lata de tinta nas mãos: evidentemente, alguma coisa estranha estava acontecendo. Logo pensei nas pichações ocorridas em São Paulo na Galeria Choque Cultural e na Faculdade Belas Artes, lideradas por Rafael Guedes Augustaitiz, o PixoBomb e seu movimento “PiXação: Arte Ataque Protesto”. Matei a charada: alguns minutos depois recebi um torpedo no celular com a notícia da pichação. Eles atacaram outra vez.
O discurso desse pessoal, até onde entendi a partir das notícias lidas depois dos últimos ataques, é discutir os limites da arte pichando instituições ligadas ao mundo artístico. Das últimas duas vezes pelo menos, era isso mesmo, nas palavras do próprio Rafael. Dêem um Google e leiam várias matérias sobre o assunto. Essa maneira de intervir e até destruir espaços e obras (na Galeria Choque Cultural, diversas obras foram pichadas) pode ser interessante para uma Bienal que pretende discutir sua relação com a cidade de São Paulo, como disseram seus organizadores. Não tenho muita simpatia por ações violentas, mas desta vez, pelo menos, nenhuma obra foi danificada. Pode ser que a Bienal resolva incorporar o ocorrido nos debates que acontecerao em seu auditorio. Mas não tenho como deixar de notar o conservadorismo desses pichadores que, aparentemente, têm mais vocação para celebridades do que para ativistas.
Pensemos no Mano Brown e nos Racionais MC’s que se recusam a falar para a grande imprensa e criaram seu próprio selo, meios de divulgação, circuito de shows, etc. Pensemos na Internet e todo seu potencial para veicular informação, utilizado por bandas, escritores, jornalistas alternativos e tantos outros. Hoje pode-se apostar de fato em pólos alternativos de poder cultural que colocam em cheque a centralidade das grandes corporações e instituições. A indústria da música já cedeu e, muito provavelmente, nunca mais fabricará artistas de alcance global como Maddona e Michael Jackson, sobreviventes de uma era de hegemonia cultural que se acabou. Fim da era do hit: só não percebeu quem anda completamente alienado.
Os jornais tambám estão sendo redimensionados; as TVs, as editoras, todo o mundo da cultura está vivendo um processo de decentramento extremamente saudável. O poder simbólico está sendo fracionado de tal forma que cada vez mais gente tera poder para opinar e influenciar o publico a respeito do que deve e do que não deve ser visto. Hoje em dia, dizem, uma crítica ruim no NY Times por exemplo, é capaz de fechar uma peça de teatro. Tenho certeza de que isso vai mudar em muito pouco tempo.
Claro, no limite estaria o inverso, um mundo em que só haveria opiniões subjetivas, desprovido de qualquer senso crítico. Acho que essa distopia não vai se concretizar. Vamos ter apenas companhias menores, editores e editoras menos poderosos, salários mais modestos em troca de mais centros de poder, mais pontos de vista, mais argumentos e opiniões, ou seja, mais democracia.
Atacar a Bienal, com todo o respeito, é totalmente déjà vu. Lembra o começo do século XX ou final do XIX em que as vanguardas, de fato, precisaram atacar as instituições de arte para serem percebidas. Fazer isso hoje, em pleno século XXI é afirmar um poder que estas instituições não têm. É dar a elas uma centralidade que só expirimentam na grande mídia, porque é preciso preencher o imenso espaço vazio destinado às notícias do dia. Como era mesmo a frase daquele velho barburo e comunista? A historia se repete como farsa... O público de arte nem sonha em se informar sobre o assunto indo apenas à Bienal ou mesmo à Documenta de Kassel. Há outros espaços, outros centros, outros veículos. A Bienal é apenas mais um. Pode ser interessante, instigante, mas está ao lado de dezenas e dezenas de galerias, exposições, publicações, sites, blogs, etc.
Achei este episódio tedioso, como será tediosa a discussão que deve ocorrer na imprensa nos próximos dias. Sinceramente, fico imaginando que a única motivação desse pessoal deve ser mesmo aparecer. Porque não fazem como o Mano Brown e direcionam toda essa energia para criar, por exemplo, pólos de arte de rua nas periferias? Não, preferem se promover à custa das combalidas instituições “consagradas”. Aparecer nos jornais e nas TVs eles já conseguiram. Além disso, o que mais eles querem? Provavelmente nada. É isso que me entedia; esse “ativismo” no estilo BB Brasil em que vale tudo para aparecer. E fica nisso.
Ah, o show do Fischerspooner foi ótimo! Comentários em breve.
Passaram bem do meu lado um segurança perseguindo um rapaz de short verde com uma lata de tinta nas mãos: evidentemente, alguma coisa estranha estava acontecendo. Logo pensei nas pichações ocorridas em São Paulo na Galeria Choque Cultural e na Faculdade Belas Artes, lideradas por Rafael Guedes Augustaitiz, o PixoBomb e seu movimento “PiXação: Arte Ataque Protesto”. Matei a charada: alguns minutos depois recebi um torpedo no celular com a notícia da pichação. Eles atacaram outra vez.
O discurso desse pessoal, até onde entendi a partir das notícias lidas depois dos últimos ataques, é discutir os limites da arte pichando instituições ligadas ao mundo artístico. Das últimas duas vezes pelo menos, era isso mesmo, nas palavras do próprio Rafael. Dêem um Google e leiam várias matérias sobre o assunto. Essa maneira de intervir e até destruir espaços e obras (na Galeria Choque Cultural, diversas obras foram pichadas) pode ser interessante para uma Bienal que pretende discutir sua relação com a cidade de São Paulo, como disseram seus organizadores. Não tenho muita simpatia por ações violentas, mas desta vez, pelo menos, nenhuma obra foi danificada. Pode ser que a Bienal resolva incorporar o ocorrido nos debates que acontecerao em seu auditorio. Mas não tenho como deixar de notar o conservadorismo desses pichadores que, aparentemente, têm mais vocação para celebridades do que para ativistas.
Pensemos no Mano Brown e nos Racionais MC’s que se recusam a falar para a grande imprensa e criaram seu próprio selo, meios de divulgação, circuito de shows, etc. Pensemos na Internet e todo seu potencial para veicular informação, utilizado por bandas, escritores, jornalistas alternativos e tantos outros. Hoje pode-se apostar de fato em pólos alternativos de poder cultural que colocam em cheque a centralidade das grandes corporações e instituições. A indústria da música já cedeu e, muito provavelmente, nunca mais fabricará artistas de alcance global como Maddona e Michael Jackson, sobreviventes de uma era de hegemonia cultural que se acabou. Fim da era do hit: só não percebeu quem anda completamente alienado.
Os jornais tambám estão sendo redimensionados; as TVs, as editoras, todo o mundo da cultura está vivendo um processo de decentramento extremamente saudável. O poder simbólico está sendo fracionado de tal forma que cada vez mais gente tera poder para opinar e influenciar o publico a respeito do que deve e do que não deve ser visto. Hoje em dia, dizem, uma crítica ruim no NY Times por exemplo, é capaz de fechar uma peça de teatro. Tenho certeza de que isso vai mudar em muito pouco tempo.
Claro, no limite estaria o inverso, um mundo em que só haveria opiniões subjetivas, desprovido de qualquer senso crítico. Acho que essa distopia não vai se concretizar. Vamos ter apenas companhias menores, editores e editoras menos poderosos, salários mais modestos em troca de mais centros de poder, mais pontos de vista, mais argumentos e opiniões, ou seja, mais democracia.
Atacar a Bienal, com todo o respeito, é totalmente déjà vu. Lembra o começo do século XX ou final do XIX em que as vanguardas, de fato, precisaram atacar as instituições de arte para serem percebidas. Fazer isso hoje, em pleno século XXI é afirmar um poder que estas instituições não têm. É dar a elas uma centralidade que só expirimentam na grande mídia, porque é preciso preencher o imenso espaço vazio destinado às notícias do dia. Como era mesmo a frase daquele velho barburo e comunista? A historia se repete como farsa... O público de arte nem sonha em se informar sobre o assunto indo apenas à Bienal ou mesmo à Documenta de Kassel. Há outros espaços, outros centros, outros veículos. A Bienal é apenas mais um. Pode ser interessante, instigante, mas está ao lado de dezenas e dezenas de galerias, exposições, publicações, sites, blogs, etc.
Achei este episódio tedioso, como será tediosa a discussão que deve ocorrer na imprensa nos próximos dias. Sinceramente, fico imaginando que a única motivação desse pessoal deve ser mesmo aparecer. Porque não fazem como o Mano Brown e direcionam toda essa energia para criar, por exemplo, pólos de arte de rua nas periferias? Não, preferem se promover à custa das combalidas instituições “consagradas”. Aparecer nos jornais e nas TVs eles já conseguiram. Além disso, o que mais eles querem? Provavelmente nada. É isso que me entedia; esse “ativismo” no estilo BB Brasil em que vale tudo para aparecer. E fica nisso.
Ah, o show do Fischerspooner foi ótimo! Comentários em breve.
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